domingo, 24 de agosto de 2014

Bava e Argento: dois mestres do terror

Nas décadas de sessenta e setenta, o gênero do terror era apreciado por uma geração de espectadores e esculachado por grande parte da crítica cinematográfica. A justificativa para sua recepção negativa junto aos críticos de cinema era que os filmes de terror produzidos neste período abusavam das cenas de sensualidade e de violência. Isso não é mentira e talvez a combinação desses dois elementos tenha assegurado o sucesso e aceitação deles, principalmente, junto ao jovens. De alguma forma, o terror tem um aspecto libertador, embora, isso também deva ser visto com uma certa reserva, uma vez que como gênero, o terror manifesta o que há de pior na espécie humana. 
Nessa época, o terror fazia sucesso em vários países da Europa, principalmente, na Itália, onde se mistura a um tipo de estilo muito específico o giallo (amarelo), que tem sua origem na literatura popular italiana. Mas, antes de se falar um pouco do giallo, gostaria de comentar alguns filmes de um diretor que até hoje tem sua influencia reconhecida no trabalho de cineastas como Tim Burton, Martin Scorsese e Francis Ford Coppola: Mario Bava.
Bava é considerado o grande maestro devido a  seu trabalho de direção. Ele era capaz de criar produções que se destacam por estilização estética no uso de cores ou do branco e preto e também na criação de eficientes atmosferas sobrenaturais. Um exemplo disso é o filme considerado sua obra-prima, Black Sunday (que no Brasil ganhou o infeliz título de A máscara de Satã), que se tornou um grande clássico do gênero e foi homenageado/ imitado em filmes como Drácula de Bram Stoker e Sleep Hollow.
Neste conto gótico que se passa em uma mítica época medieval, onde predomina cenários como cemitérios e castelos, se destaca também pela interpretação da bela atriz inglesa Barbara Steele, que conseguiu criar uma das vilãs mais carismáticas e terríveis do cinema de terror, uma combinação de bruxa e vampira que faz de tudo para se apossar do corpo da mocinha, seu "duplo". Além de suas cenas assustadoras, este filme chama atenção por seus elementos cênicos e pela fotografia em tom expressionista. Dessa forma, não é exagero afirmar que se trata de uma obra de horrível beleza, que ao mesmo tempo em que assusta é capaz de exercer um certo fascínio sobre o espectador.
Igualmente assustador e fascinante é outro filme de Bava chamado Kill Baby, Kill, de 1966. Este, assim como Black Sunday chama a atenção por sua ambientação com cenários decadentes e assustadores, pelo tratamento dado ao motivo do fantasma e por mistérios envolvendo um sinistro segredo de família. Inicialmente, neste filme Bava trata do conflito entre o natural e o sobrenatural, amplamente explorado nos textos góticos. Além disso, em Kill Baby, Kill também se destaca o uso de cores berrantes, tais como o azul e o vermelho em suas cenas, de modo a ressaltar nelas a presença de uma criatura fantasmagórica. Curiosamente, trata-se de uma menina que apesar dos traços angelicais, age como um ser maligno e comete atos terríveis que estão associados ao que aconteceu com ela no passado.  
Além dessa sinistra criança, durante o desenvolvimento da narrativa outra personagem assume grande importância e ao dar enfoque a ela no terço final da película, Bava consegue dar um nova roupagem para o terror gótico. Dessa forma, Kill Baby, Kill permanece como uma de suas melhores filmes, e com certeza, é um clássico do terror gótico, embora, infelizmente, por não ter sido lançado em dvd permaneça pouco conhecido no Brasil. 
Bava também popularizou um estilo muito particular: o giallo, por meio de Um assassino e seis mulheres, um de seus filmes mais conhecidos e cultuados. Nesta produção se destaca a presença dos elementos essenciais do giallo: o serial killer que age motivado por um descontrole emocional, somente usa roupa preta, inclusive luvas nas mãos e ataca e mata suas vítimas indefesas, todas elas do sexo feminino.
Apesar de Bava ter contribuído de forma significativa para o sucesso do giallo, é outro diretor que o torna imensamente popular na Itália, o qual também promoverá sua combinação com os elementos de terror/ horror: Dario Argento.
Argento ou "Nojento" para alguns (desculpe, eu não resisti ao trocadilho) é um dos cineastas do gênero terror/ horror mais conhecidos da Europa, embora, atualmente, seu nome esteja em baixa, devido a uma série de fracassos comerciais.
Dentro de sua filmografia, dois filmes inseridos dentro do giallo se destacam e por sua realização técnica podem ser considerados os melhores do diretor.
O primeiro deles é seu filme de estréia: O pássaro das plumas de cristal de 1970. Segundo o diretor este foi criado como uma resposta ao cult Blow up de Michelangelo Antonioni. Curiosamente, ambos partem da mesma premissa. Um homem presencia uma estranha cena, na parece que um crime está sendo cometido. Posteriormente, é revelado a ele que é escritor - Argento vai repetir a profissão do protagonista em Tennebre, de 1983, que pode ser visto como uma sátira de gosto duvidoso ao giallo -, e que a estranha cena que presenciou está associado a uma série de crimes misteriosos. Assim como outros diretores, Argento faz de O pássaro... um autêntico giallo, embora, ele não invista muito na violência explícita e prefira criar cenas de tensão e suspense, além de ressaltar o mistério em torno da identidade do assassino que somente em revelado no desfecho. O filme também chama a atenção por seus movimentos de câmera sofisticados, pela trilha sonora composta por Ennio Moricone e pela revelação final surpreendente que pode obrigar o espectador a revê-lo.
Profondo Rosso, chamado no Brasil de Prelúdio para Matar, de 1976 é outro filme que se destaca na filmografia de Argento. Este começa com um misterioso assassinato que não é mostrado, mas apenas sugerido e tem como música de fundo uma sinistra canção de ninar. Logo depois, há um corte para o tempo presente, em que é inserido um elemento sobrenatural em sua narrativa: uma médium consegue "sentir" o instinto assassino da pessoa que cometeu o crime e afirma que ela vai matar de novo. Logo depois, em uma impressionante sequencia, bastante violenta, a sensitiva é assassinada e sua morte é presenciada por um músico (David Hemmings, o protagonista de Blow up de Antonioni!). A partir daí os eventos giram em torno do misterioso assassino que aparece de acordo com as regras do giallo e também envolve um sinistro segredo do passado. Em um determinado momento, aparece o cenário de uma casa abandonada que contém a chave para a resolução do mistério central de sua trama - a real identidade do assassino e faz com o filme se enquadre dentro da categoria de neo gótico. 
Novamente, assim como havia feito em O pássaro... Argento "brinca" com a perspectiva do espectador e também procura surpreendê-lo no desfecho de Profondo..., por meio de uma revelação inusitada, em que faz uso de um artifício que engenhosamente engana nosso olhar. Assim, apesar de alguns pontos falhos no roteiro, Prelúdio para matar permanece com um de seus melhores filmes de Argento e exerceu grande influência sobre os thrillers de Brian de Palma, tais como, Um tiro na noite, Vestida para matar e Dublê de corpo, que são releituras do giallo pela perspectiva do diretor norte-americano.
Posteriormente, Argento faria Suspiria, um filme de horror gótico narrado em uma atmosfera de pesadelo que divide opiniões, embora na época atual ainda tenha muito admiradores. Mas este é assunto para outro post. 
Tanto Bava quanto Argento conseguiram criar filmes que vale a pena serem conhecidos, principalmente, pelos apreciadores do gênero do terror/suspense, os quais estão carentes de obras inovadoras e capazes de trazer elementos que sejam assustadores  e inovadores e assustadores ao mesmo tempo. 
Black Sunday: ***** (excelente)
Kill Baby, Kill : **** (muito bom)
O pássaro das plumas de cristal: **** (muito bom)
Prelúdio para matar: **** (muito bom)
Os links para ver os filmes estão abaixo. Black Sunday não tem legenda, mas você pode tentar encontrar uma cópia legendada, com o título nacional. As legendas e o áudio de Prelúdio para matar não são de boa qualidade. Mesmo assim dá para assisti-los e caso não consiga por meio dos link, acesso a barra de informações do You tube. No caso, O pássaro... infelizmente, somente encontrei o vídeo no original em inglês (macarrônico, como era na época!) e a imagem não está muito bom, mas você poderá encontrá-lo no mercado virtual para comprar.













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