domingo, 24 de agosto de 2014

Resenha: "Tarzan", de Edgar Rice Burroughs

Quando eu era criança, uma das coisas que mais gostava de fazer durante a tarde, era assistir as aventuras de Tarzan na tv. Naquela saudosa época, tudo o que eu sabia sobre esse personagem incorporado ao imaginário coletivo há muito tempo, era que ele sido criado por macacos e vivia na selva na companhia da macaca Chita e uma moça bonita chamada Jane. Minhas informações sobre Tarzan paravam por aí. Quem quer saber mais sobre o famoso "Rei das Selvas" tem a oportunidade de conhecer melhor sua misteriosa origem, por meio da obra que deu origem a ele. 
"Tarzan" é o primeiro de uma série de livros que contam as aventuras do homem macaco. Sua edição recebeu um caprichado tratamento pela editora Zahar que a lançou dentro de sua coleção de clássicos e sua apresentação escrita pelo jornalista Thiago Lins traz interessantes informações sobre o criador de Tarzan: Edgar Rice Burroughs e quarenta ilustrações de Hall Foster, talentoso artista gráfico e responsável pela criação de outro personagem clássico das Hqs: o Príncipe Valente.
Apesar de ter sido escrito em 1912 como um conto para uma revista, esta primeira aventura de Tarzan se mantém empolgante até época atual. Inicialmente, é possível notar que Burroughs foi fortemente influenciado por "O livro das selvas", - e Tarzan é uma releitura de Mogli, o menino lobo, a obra mais de Rudyard Kimpling, assim como por alguns conceitos de Charles Darwin sobre a origem das espécies.Tarzan é criado como se fosse um primata e age como tal, mas em um determinado momento de forma inesperada, sua herança genética se manifesta e revela sua verdeira identidade. Dessa forma, ele descobre que sua natureza é constituída pela combinação da agilidade e destreza dos animais e o DNA com o que há de melhor na espécie humana, uma vez que ele filho de um lorde inglês. Apesar de explorar o conflito entre o selvagem e o primitivo e também procurar estabelecer a junção desses dois elementos em só indivíduo, Burroughs desenvolve sua narrativa dentro do gênero da aventura, de modo a enfatizar elementos os quais não tem muito compromisso com os aspectos realistas da literatura. Assim, o autor adota o que Lins chama em sua introdução de "incredibilidade prática" para justificar algumas ações do protagonista, tais como, o processo de aprendizagem de sua identidade como ser humano. 
Mas, sem dúvida, o que cativa o leitor e torna a leitura desse livro prazerosa são as sequencias de aventura, as quais serão retomadas na transposição da obra para a linguagem cinematográfica. Nelas, o autor demonstra sua capacidade imaginativa por meio da descrição de cenas em que Tarzan enfrenta seus inimigos, incluindo entre eles, o líder dos macacos, o terrível, Kerchark. Em contrapartida  a ele se destaca a figura maternal de sua mãe adotiva a macaca, Kala. Dessa forma, o autor faz em sua obra interessante inversão: a humanização dos animais, nem sempre positiva e animalização dos seres humanos. Também chama atenção que Tarzan não é o tipo de herói politicamente correto: ele muitas vezes comete atos questionáveis e até mesmo cruéis, embora eles se justifiquem porque estão relacionados ao seu instinto de sobrevivência.
Embora, o autor dê enfase para as sequencias de tensão e até mesmo de suspense, ele também não deixa de lado em sua narrativa um certo humor, o qual é suscitado por algumas estranhas ações de Tarzan, que demonstram seu lado primitivo, os comentários confusos de Esmeralda - a babá de Jane e as falas excêntricas de um antropólogo, que na prática não entende como as coisas funcionam quando se está perdido na selva. 

Mesmo sendo um pulp fiction em sua essência - ou seja uma literatura de forte apelo popular, "Tarzan" trata da busca e preservação da identidade humana e ao mesmo tempo da necessidade dos seres humanos de preservarem um lado selvagem que aparece associado a tipo de inocência, sem recorrer a experimentalismos de narração e demonstra que um livro simples, divertido e sem grandes pretensões ao contrário do que alguns afirmam, pode se manter um clássico. Se tem uma falha é que "Tarzan" termina em aberto, mas até descobrirmos que isso acontece, já estamos complemente envolvidos pelas aventuras dessa imortal criação de Burroughs que ainda hoje consegue manter intacta sua aura mítica e continua exercendo grande fascínio sobre diferentes gerações de leitores.   
cotação: **** (muito bom)



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