Quando eu era criança, uma das coisas que mais gostava de fazer durante a tarde, era assistir as aventuras de Tarzan na tv. Naquela saudosa época, tudo o que eu sabia sobre esse personagem incorporado ao imaginário coletivo há muito tempo, era que ele sido criado por macacos e vivia na selva na companhia da macaca Chita e uma moça bonita chamada Jane. Minhas informações sobre Tarzan paravam por aí. Quem quer saber mais sobre o famoso "Rei das Selvas" tem a oportunidade de conhecer melhor sua misteriosa origem, por meio da obra que deu origem a ele.
"Tarzan" é o primeiro de uma série de livros que contam as aventuras do homem macaco. Sua edição recebeu um caprichado tratamento pela editora Zahar que a lançou dentro de sua coleção de clássicos e sua apresentação escrita pelo jornalista Thiago Lins traz interessantes informações sobre o criador de Tarzan: Edgar Rice Burroughs e quarenta ilustrações de Hall Foster, talentoso artista gráfico e responsável pela criação de outro personagem clássico das Hqs: o Príncipe Valente.
Apesar de ter sido escrito em 1912 como um conto para uma revista, esta primeira aventura de Tarzan se mantém empolgante até época atual. Inicialmente, é possível notar que Burroughs foi fortemente influenciado por "O livro das selvas", - e Tarzan é uma releitura de Mogli, o menino lobo, a obra mais de Rudyard Kimpling, assim como por alguns conceitos de Charles Darwin sobre a origem das espécies.Tarzan é criado como se fosse um primata e age como tal, mas em um determinado momento de forma inesperada, sua herança genética se manifesta e revela sua verdeira identidade. Dessa forma, ele descobre que sua natureza é constituída pela combinação da agilidade e destreza dos animais e o DNA com o que há de melhor na espécie humana, uma vez que ele filho de um lorde inglês. Apesar de explorar o conflito entre o selvagem e o primitivo e também procurar estabelecer a junção desses dois elementos em só indivíduo, Burroughs desenvolve sua narrativa dentro do gênero da aventura, de modo a enfatizar elementos os quais não tem muito compromisso com os aspectos realistas da literatura. Assim, o autor adota o que Lins chama em sua introdução de "incredibilidade prática" para justificar algumas ações do protagonista, tais como, o processo de aprendizagem de sua identidade como ser humano.
Mas, sem dúvida, o que cativa o leitor e torna a leitura desse livro prazerosa são as sequencias de aventura, as quais serão retomadas na transposição da obra para a linguagem cinematográfica. Nelas, o autor demonstra sua capacidade imaginativa por meio da descrição de cenas em que Tarzan enfrenta seus inimigos, incluindo entre eles, o líder dos macacos, o terrível, Kerchark. Em contrapartida a ele se destaca a figura maternal de sua mãe adotiva a macaca, Kala. Dessa forma, o autor faz em sua obra interessante inversão: a humanização dos animais, nem sempre positiva e animalização dos seres humanos. Também chama atenção que Tarzan não é o tipo de herói politicamente correto: ele muitas vezes comete atos questionáveis e até mesmo cruéis, embora eles se justifiquem porque estão relacionados ao seu instinto de sobrevivência.
Embora, o autor dê enfase para as sequencias de tensão e até mesmo de suspense, ele também não deixa de lado em sua narrativa um certo humor, o qual é suscitado por algumas estranhas ações de Tarzan, que demonstram seu lado primitivo, os comentários confusos de Esmeralda - a babá de Jane e as falas excêntricas de um antropólogo, que na prática não entende como as coisas funcionam quando se está perdido na selva.
cotação: **** (muito bom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário