Alguns autores vão conquistando fãs e espaço no mundo da literatura. O japonês Haruki Murakami é um deles. É o que podemos chamar de autor cult. Meu primeiro contato com Murakami foi a partir de sua obra mais ambiciosa: 1Q84, uma trilogia dividida em três partes. É difícil enquadrá-la dentro de um gênero literário específico. Fantasia? Épico? Ficção alternativa distópica? Como defini-la com exatidão. Talvez, ela se enquadre melhor como um épico de fantasia. O enredo de 1Q84 é mirabolante e alguns leitores e críticos literários encontraram em sua trama paralelos com 1984, de George Orwell, embora eu não tenha visto isso. Sua trama começa quando a protagonista, de nome exótico "Aomame", que tem uma profissão bastante inusitada, durante um de seus "serviços", decide tomar um atalho que dá acesso a um outro mundo, que é uma espécie de cópia do nosso e tem mesma dimensão temporal (daí o título da obra). Paralelamente, a esta trama, que remete ao clássico Alice no país das maravilhas é narrada outra história, protagonizada por Tengo, um jovem professor de matemática, com as aspirações a escritor. Ele aceita trabalhar como ghost writter e começa a reescrever uma narrativa, de modo a torná-la um sucesso editoral.
A partir desse ponto, Murakami aborda em 1Q84 questões interessantes sobre o processo de criação literária e faz de seu romance um interessante exercício de metalinguagem. A narrativa reescrita chamada Crisálida de ar reproduz um evento bastante bizarro e sinistro, que acontece nessa realidade alternativa, assim como Tengo, também faz parte dela. Ou seja, todo o restante de 1Q84 se passa nesta realidade fantástica e a peculiaridade que a difere do mundo real é existência de duas luas, que evocam o tema do duplo amplamente explorado pelo autor, principalmente, no jogo que ele cria entre o real e o imaginário.
Contudo, vale ressaltar que a configuração fantástica em 1Q84 é um simulacro quase perfeito em seus detalhes da vida cotidiana. Assim, o fantástico no romance de Murakami aparece misturado às ações banais, tais como ir a um show de Karaôke, visitar cidades no interior do Japão, ou ainda simplesmente ler um livro e se exercitar. Por outro lado, o fantástico e o real em alguns momentos em 1Q84 entram em choque e é neste aspecto que pode ser encontrado o calcanhar de Aquiles dessa fantasia épica de Murakami.
A razão da existência do conflito entre o mundo paralelo 1Q84 e nosso mundo, e, principalmente, suas consequências em ambos, nunca é explicada pelo autor. Somente é sugerido que deve ser mantido uma espécie de equilíbrio entre duas forças opostas (bem e mal) que se não se não existir, poderá resultar na provável extinção deles. Também no mundo paralelo de 1Q84 alguns mistérios ficam sem solução, principalmente, o mais interessante que envolve a misteriosa Fukaeri, autora de "Crisálida de ar". Quem é ela? Seria mesmo um ser real, ou, seu "dota" (duplo)? É uma das perguntas entre tantas que permanecem sem resposta, até mesmo no encerramento da narrativa, que termina tão enigmática como começou, frustrando assim algumas expectativas do leitor. Mesmo assim, não deixa de ser livro interessante, principalmente, por algumas sequencias de ação que lembram os filmes de Quentin Tarantino! e também por passagens, em que são mencionados autores e obras literárias.
A razão da existência do conflito entre o mundo paralelo 1Q84 e nosso mundo, e, principalmente, suas consequências em ambos, nunca é explicada pelo autor. Somente é sugerido que deve ser mantido uma espécie de equilíbrio entre duas forças opostas (bem e mal) que se não se não existir, poderá resultar na provável extinção deles. Também no mundo paralelo de 1Q84 alguns mistérios ficam sem solução, principalmente, o mais interessante que envolve a misteriosa Fukaeri, autora de "Crisálida de ar". Quem é ela? Seria mesmo um ser real, ou, seu "dota" (duplo)? É uma das perguntas entre tantas que permanecem sem resposta, até mesmo no encerramento da narrativa, que termina tão enigmática como começou, frustrando assim algumas expectativas do leitor. Mesmo assim, não deixa de ser livro interessante, principalmente, por algumas sequencias de ação que lembram os filmes de Quentin Tarantino! e também por passagens, em que são mencionados autores e obras literárias.
Apesar de também estar inserido no fantástico, embora, mais próximo ao realismo mágico, outro romance de Murakami, Kafka à beira-mar é superior à 1Q84, no que se refere ao desenvolvimento da narrativa. Novamente, temos duas histórias que se desenvolvem paralelamente e se ligam próximo ao desfecho, em que se destacam dois protagonistas: um adolescente, que insiste em ser chamado de Kafka, assim como seu escritor favorito e Nakata, um homem que adquiriu estranhos poderes durante a infância em circunstancias misteriosas, depois de passar por uma estranha experiência. Assim como em 1Q84, Murakami cria um mundo paralelo que se sobrepõe sobre a realidade. Também chama atenção a forma inventiva como o autor faz uma espécie de releitura do mito de Édipo e enfatizar o humor (às vezes, negro) em algumas passagens por meio da criação de situações estranhas, uma delas, envolvendo um serial killer de gatos!. Por falar em gatos, também se destaca na trama do romance a presença de um felino falante, que se destaca por seus comentários, alguns deles bastante engraçados.
Além disso, o autor compõe uma personagem feminina, a qual também possui um "duplo" tornando-a real aos olhos do leitor, uma vez podemos ter acesso a seus desejos e suas emoções. Embora mantenha alguns mistérios sem solução, os quais estão associados novamente à manutenção de um equilíbrio entre o mundo real e um mundo paralelo, Kafka à beira-mar conquista o leitor por sua composição de personagens bem construídos e eventos inusitados e até mesmo bizarros, que demonstram o estilo de escrita muito particular de Murakami, um autor que consegue com muita inventividade dar uma nova dimensão a chamada literatura fantástica.
No entanto, apesar de ser mais conhecido como autor de textos fantasiosos, o melhor romance Murakami até então, tem contornos realistas. Trata-se de Norwegian Wood, que muitos consideram sua obra-prima e descreve eventos autobiográficos, embora o autor negue isso. Sua trama é simples e seu início se dá a partir da evocação de uma época passada.Toru, o protagonista, lembra sua juventude quando escuta Norwegian Wood uma famosa música dos Beatles. Ele se recorda sua amizade com Suzuzi, seu melhor amigo desde a infância, que inexplicavelmente resolve cometer suicídio,e, principalmente, seu complicado relacionamento com a namorada deste, Naoko, por quem é apaixonado. Dessa forma, Murakami retoma elementos do romance de formação, uma vez que o protagonista de sua obra se vê diante de problemas bastante atuais, tais como: a dificuldade de escolher uma profissão, o deslocamento diante da sociedade e seu envolvimento em complicadas relações amorosas. Novamente, em Norwegian Wood, o autor explora o tema do duplo, que se destaca na estranha relação que se estabelece entre Naoko e Suzuki, uma vez que nem mesmo a morte é capaz de separar o casal. Também neste romance Murakami consegue construir muito bem personagens femininas marcantes: Naoko é encantadora, mas, em muitos momentos se torna melancólica e depressiva; Midori tem mais defeitos do que qualidade, mesmo assim é figura cativante. E por fim, Reiko, que apesar de aparecer menos, ganha espaço em uma passagem do livro, onde se revela sua personalidade multifacetada e, por isso, fascinante
Murakami neste romance exercita muito bem sua escrita, que em muitos momentos, assume uma conotação poética. Além disso, em muitas passagens do livro podem ser encontrados diálogos rápidos, precisos e bem humorados, nos quais remetem à cultura japonesa, ao cinema, a literatura, etc.
Embora Murakami descreva detalhes nas cenas de sexo que não acrescentam nada à narrativa, Norwegian Wood é um belo e nostálgico retrato sobre as alegrias e tristezas do que é ser jovem, independente, de qual época seja, e consegue ser doce e amargo ao mesmo tempo.
Dessa forma, o romance consiste na visível demonstração do talento de Haruki Murakami, um dos mais interessantes autores de literatura contemporânea, cujas obras são capazes de nos fazer refletir sobre a nossa realidade e processo de criação literária, sem parece pretensioso e sem recorrer a experimentalismos de narração que somente cansam a paciência do leitor.
Obs. : Há pouco tempo, saiu um filme baseado em Norwegian Wood. Como quase sempre acontece, o livro é melhor que sua adaptação cinematográfica. O filme não é ruim e vale a pena ser visto, principalmente pelos fãs da literatura de Murakami.
Embora Murakami descreva detalhes nas cenas de sexo que não acrescentam nada à narrativa, Norwegian Wood é um belo e nostálgico retrato sobre as alegrias e tristezas do que é ser jovem, independente, de qual época seja, e consegue ser doce e amargo ao mesmo tempo.
Dessa forma, o romance consiste na visível demonstração do talento de Haruki Murakami, um dos mais interessantes autores de literatura contemporânea, cujas obras são capazes de nos fazer refletir sobre a nossa realidade e processo de criação literária, sem parece pretensioso e sem recorrer a experimentalismos de narração que somente cansam a paciência do leitor.
Obs. : Há pouco tempo, saiu um filme baseado em Norwegian Wood. Como quase sempre acontece, o livro é melhor que sua adaptação cinematográfica. O filme não é ruim e vale a pena ser visto, principalmente pelos fãs da literatura de Murakami.
1Q84: ** (regular)
Kafka à beira mar: **** (muito bom)
Norwegian Wood: ***** (excelente)
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