domingo, 23 de junho de 2013

Crítica: O Morro dos Ventos Uivantes (filme, 2009)

Wuthering Heights, ou, O Morro dos Ventos Uivantes como é mais conhecido no Brasil já tinha sido adaptado várias vezes para o cinema,  por isso, confesso que fiquei com um pé atrás com este filme, ainda mais após ter revisto sua versão de 1992, protagonizada por Ralph Fienes e Juliette Binoche, que me pareceu inverossímil em muitos momentos, cafona no aspecto gótico e, pior sem muita "química" entre os personagens principais. Feita para tv britânica, esta produção se revelou uma boa surpresa no que se refere aos aspectos técnicos (fotografia, reconstituição de época, etc) ,e, principalmente, porque mesmo tomando algumas liberdades, o que é normal na transposição de um texto literário para uma outra linguagem, se mantém bastante fiel a trama original do romance de Brontë. Começa de forma ousada contando a história do meio para o final, quando Linton chega a Wuthering Heights, que é a propriedade rural que dá título ao livro. Dessa forma, somos apresentados aos personagens centrais, onde se destaca Heathcliff, muito bem interpretado por Tom Hardy, mais conhecido como o Bane, o vilão do último filme da trilogia Batman. Neste filme, o protagonista de WH tem uma dimensão mais humana, com mais nuances de personalidade, e o espectador pode entender melhor as razões que o levam a se tornar mau e vingativo. Também gostei de como os elementos sobrenaturais aparecem. Inicialmente, o fantasma de Catherine é visto como uma alucinação de Heathcliffe, um indício de sua culpa por ter causado a morte dela e, principalmente, seu amor obsessivo pela moça, conforme demonstra uma cena de forte impacto emocional, onde ele viola o caixão dela. A mudança do tempo, onde os protagonistas vão da infância, adolescência e idade adulta, que nos outros filmes,principalmente o de 1992, é um elemento bastante problemático e causa um descompasso na narrativa me pareceu mais verossímil neste filme, pois é demonstrada com mais naturalidade, digamos assim. Outro ponto positivo desta produção é a caracterização de Catherine, que me parece a personagem mais difícil do romance de se retratar. A atriz Charlotte Riley conseguiu compô-la de modo convincente; é uma Catherine "pé no chão", mais humana, menos chorosa e, até mesmo temperamental, que apesar de nutrir um amor genuíno por Heathcliff (e no filme, o casal de protagonistas consuma a relação amorosa, o que eu achei que atualiza a história para nossa época tornando-a ainda mais forte),  prefere se casar com Edgar, para assegurar um futuro financeiro melhor. Além disso, nesta versão há uma insinuação mais forte que Catherine e Heathcliff possam ser irmãos, pelo modo como Hindely o trata, como se fosse seu filho. Apesar do final ser mais trágico que o da obra original, com a inserção de uma situação inesperada, ele me pareceu coerente, e, que até mesmo intensifica o sentimento obsessivo que une o casal central, embora possa provocar polêmica, principalmente, entre aqueles que apreciam WH. No conjunto, gostei muito deste filme que para mim é superior em dramaticidade e fidelidade ao texto original ao filme de 1992, embora neste o aspecto gótico da obra seja mais enfatizado. Para mim, apesar de não descartar a importância da versão cinematográfica realizada em 1939, que é um filme clássico, até o momento esta produção  feita para tv inglesa me parece ser a melhor versão do romance de Brontë, uma vez que soube reproduzir os momentos mais dramáticos do romance, e, principalmente seus elementos romântico-góticos, embora o elemento sobrenatural apareça de modo bem mais sutil, principalmente, na cena final. De qualquer forma, o filme acerta na escolha dos protagonistas e consegue  reproduzir de forma crível o tema do amor, que de tão intenso se torna capaz de superar  à morte, o qual constitui no maior atrativo da imortal obra-prima de Emile Brontë.
Cotação: **** (muito bom)





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