domingo, 23 de junho de 2013

Crítica: "O monge"

Dentre os romances góticos, "O monge", de Mathew Lewis é sem dúvida, um dos mais polêmicos. Escrito em 1894, o livro evoca os horrores da Revolução Francesa, por meio de descrições explícitas de cenas de violência, mas seu aspecto mais polêmico é modo como retrata os excessos da religião católica, o que à época, faz sua fama como obsceno e blasfemo. Apesar de ter sido adaptado para o cinema algumas vezes (duas), suas versões anteriores caíram no esquecimento, principalmente, por sua qualidade duvidosa. No ano passado, uma nova adaptação de "O monge" foi lançada nos cinemas, o que imediatamente despertou minha curiosidade em assisti-la e conferir se tinha preservado os elementos do texto original. Protagonizada pelo ator francês Vicent Cassel (ótimo) como Ambrósio, esta me surpreendeu de forma positiva. O diretor Dominick Moll fez escolhas ousadas e optou por um tratamento do horror que destoa um pouco daquele dado por Lewis em seu livro, mas que se fosse reproduzido no filme poderia resultar exagerado e até mesmo de mau gosto. Assim, em vez investir de forma maciça em cenas  de horror explícitas, Moll preferiu criar uma atmosfera de terror/suspense apoiando-se totalmente em sua ambientação gótica, onde se sobressem os cenários escuros e a presença de um personagem, onde é destacado um assustador aspecto de sua aparência física (inexistente no texto original), que é melhor não revelar e deixar o espectador descobrir sozinho. Moll também "enxugou" as duas tramas que correm paralelas no romance tornando-a uma só, de modo a tornar a narrativa do filme mais fluída. Sem abdicar da abordagem de temas bastante contundentes como a repressão sexual do celibato que conduz a atos terríveis, a hipocrisia da Igreja Católica, e, principalmente, o excesso de orgulho que causa a ruína moral, espiritual e física de Ambrósio, o diretor enfatizar a dramaticidade da situação central da trama, reforçada pela atuação de Cassel -que dá a uma dimensão humana a um personagem difícil, que facilmente poderia cair no registro caricatural. Além disso, o filme mostra de forma eficiente que o mal têm muitas faces, que muitas vez pode aparecer e se manifestar da forma que menos se imagina. Assim, por propor o que podemos chamar de "gótico atmosférico", mas sem descartar os elementos sobrenaturais da trama original de Lewis e com um desfecho simbólico, que me pareceu mais forte que o do livro, "O monge" é um filme bem acima da média dentro do gênero terror/suspense que demonstra que o menos, às vezes, é mais, quando se trata da criação de obras que sejam capazes de criar momentos assustadores, sem apelar para exageros estéticos, e que também podem nos levar a reflexão quando abordamos o eterno conflito entre o bem e o mal presente na condição humana.  
Cotação: *** (bom)





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