domingo, 31 de março de 2013

Resenha: Deixe ela entrar - um clássico moderno da literatura vampírica

Desde de o início dos século XIX, o vampirismo é um tema recorrente na literatura gótica. Autores como Byron, Le Fanu e Stoker, este último autor de "Drácula", o clássico que popularizou as chamadas "criaturas da noite", asseguraram a permanência delas no imaginário popular. Nos setenta 70, Anne Rice deu uma nova roupagem a figura do vampiro tornando-o melancólico e, ressaltando sua dificuldade em adaptar-se no tempo presente e Stephen King deu a ela uma caracterização monstruosa na pele do inesquecível e misterioso Sr. Barlow, que forma parecida como o Conde de Stoker "degenera" todos os indivíduos que encontra. Após um período em que o tema do vampirismo se tornou uma paródia na série "Crepúsculo", fantasia adolescente de Stepheny Meyer, ele ressurgiu das cinzas do passado, em "Deixe ela entrar", de John Ajvide Lindqvist. Pouco conhecido no Brasil, o autor consegue dar uma nova e assustadora configuração ao vampiro que em seu romance é encarnado em Eli, que assim como a vampirinha Claudia, do clássico "Entrevista com o vampiro" é uma reinvenções mais interessantes deste antigo mito.Além disso, Lindquvist também renova a velha e desgastada maquinária gótica: saem de cena os velhos castelos mal assombrados e aparece o ambiente urbano da periferia de Estocolmo, sempre coberto por uma espessa neve, que destaca a sensação de solidão e também remete à finitude. Neste romance o vampirismo é associado aos horrores da vida real (pedofilia e bullyng) e o elemento sobrenatural se torna verossímil porque se manifesta aos poucos, de modo a invadir o ambiente cotidiano e promover sua plena desestabilização.  O autor também consegue "dar vida" aos protagonistas de sua obra, Oskar e Eli, o que faz com que o leitor sinta uma mistura de pena e repulsa por eles. De certa forma, "Deixa ela entrar" aos poucos vai se revela uma inusitada história de amor, onde dois seres se aproximam por se sentirem excluídos do convívio social e reúnem forças para enfrentar seus problemas. Trata-se, sem dúvida, de uma obra-prima do gótico contemporâneo, que consegue tirar o vampiro das sombras do esquecimento,  retomando e renovando elementos de sua caracterização com grande força e promovendo sua ligação com os terrores que nos perturbam em tempos atuais.

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