sábado, 30 de junho de 2012

Blade Runner: 30 anos

BLADE RUNNER: 30 ANOS

Na semana passada, o filme Blade Runner - O caçador de androídes completou trinta anos. Um "balzaquiano" diria aqueles que não perdoam as marcas do tempo. Mas por outro lado, a maturidade alcançada por este filme dirigido por Ridley Scott (também responsável por Alien: O oitavo passageiro que também definiu as novas tendências da FC nos anos oitenta) não o deixou envelhecer como tantas outras produções anteriores ou realizadas depois dele - como parece ser o caso, infelizmente de Matrix. Muito pelo contrário: elevado ao status de clássico Blade Runner demonstra que está mais atual do nunca.

Se não estamos vivendo em meio a um clima sempre nublado ou dentro de arranha-céus imensos como mostrados no filme é possível que ele tenha antecipado alguns aspectos de nossa atual realidade: vivemos em uma espécie de aldeia global onde os países mais ricos dominam os mais fracos e a tecnologia que cada vez mais se incorpora em nosso cotidiano, de modo que com a "evolução" dela corremos o sério risco de sermos dominados completamente por ela se é que isso já não está acontecendo. Além disso, o filme também trata de um tema muito discutido em nossa sociedade: a criação da vida artificial como uma maneira de preservarmos a nossa própria vida. Mesmo que os cientistas ainda não sejam capazes de criar uma criatura a imagem e semelhança do homem como em Blade Runner, eles insistem em "gerar' aberrações genéticas, tais como o rato com orelha humana e estão cada vez mais empenhados em dar origem a robôs que a cada dia que passa assumem novas características humanas, o que causa um grande desconforto. (atenção abaixo tem SPOILERS sobre Blade Runner se você ainda não viu o filme aconselho que não leia o que está escrito abaixo).

É provável que um dos fatores que contribuíram para tornar Blade Runner um clássico do gênero seja sua aproximação no que se refere à sua temática com outra obra considerada o marco inicial da FC: Frankenstein, de Mary Shelley. Existem vários pontos de aproximação entre o monstro criado pelo cientista Victor Frankenstein e Roy, o líder rebelde dos replicantes. Ambos se revoltam contra seus criadores humanos e tentam a todo custo se infiltrarem dentro da esfera social. No entanto, eles são vistos como uma ameaça e perseguidos somente lhes resta refugiarem-se em lugares isolados e planejarem sua vingança contra aqueles que deram a eles a dádiva/maldição da vida.

A cena mais impressionante de Blade Runner é quando Roy (Rugther Hauer, em uma excepcional atuação) encontra "seu pai", o cientista que o criou. Inicialmente, ele incita a compaixão por sua condição miserável como ser artificial que implica que ele seus companheiros tenha um curto prazo de vida. Diante disso, ele pede que seu criador infrinja a "regra de validade" e amplie sua vida. Mas, quando ouve a negativa dele essa compaixão que inspira se torna pura revolta: num gesto violento ele pressiona os olhos do seu criador, de modo a demonstrar simbolicamente que a "visão" deste foi também causou sua destruição.

Mas é possível que o filme de Scott tenha se tornado o que pode ser chamado de “mito cinematográfico” por uma seqüência emblemática que ficou para sempre marcada na história do cinema: depois de vencer Deckard (Harrison Ford, o eterno Indiana Jones) em uma luta corporal, Roy o vê agarrado em uma barra de metal. Neste instante, o replicante toma uma atitude inesperada: em vez de matá-lo, ele olha para Deckard e pergunta a ele:
É uma estranha experiência viver o tempo todo com medo, não é?  Em seguida, com um único gesto ele salva a vida de seu inimigo, que não entende sua atitude. Em seguida, à beira da morte, Roy profere um das frases mais emblemáticas do cinema de FC, a qual assume um sentido filosófico sobre a fragilidade, fugacidade e, acima de tudo, importância da vida da vida humana:
"Vi coisas que vocês humanos não acreditariam. Naves de ataque a bordo em chamas nas bordas de Orion. Vi raios-C brilharem nos portões de Tanhaüser. Todos estes momentos ficarão perdidos no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer."

Assim que Roy morre Deckard toma consciência de uma terrível verdade: ao contrário do que imaginava os replicantes são capazes de sentir emoções, ainda mais quando elas estão associadas à necessidade de sobreviver. Ou seja, eles podem ser mais humanos que os próprios seres humanos. Posteriormente, em outras versões de Blade Runner essa noção de humanidade se torna mais perturbadora: em uma delas, aquela que suscita mais questionamentos sobre sua compreensão sugere que o próprio caçador de andróides Deckard pode ser um tipo de replicante. Assim, o caçador de uma hora para outra se torna a caça e o que é real e o que é artificial se confunde tornando uma coisa só no desfecho no filme.

É pela perspectiva como enxerga o futuro da humanidade não somente no aspecto visual, mas também nas mudanças proporcionadas pelo avanço tecnológico que Blade Runner apesar de ter completado trinta anos continua bastante atual. No entanto, esperamos que o futuro descrito nessa produção de Scott que definiu os novos rumos de um gênero, a FC que até então oscila entre a fantasia das Spaces Operas, tais como “Guerra nas Estrelas” e os filmes que giravam em torno da invasão alienígena na Terra, não seja tão sombrio como aquele imaginado por este clássico da FC que consegue ser assustador e fascinante ao mesmo tempo.




                                                                                          

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