BLADE RUNNER: 30 ANOS
Na semana passada, o filme Blade
Runner - O caçador de androídes completou trinta anos. Um
"balzaquiano" diria aqueles que não perdoam as marcas do tempo. Mas
por outro lado, a maturidade alcançada por este filme dirigido por Ridley Scott
(também responsável por Alien: O oitavo passageiro que também definiu as novas
tendências da FC nos anos oitenta) não o deixou envelhecer como tantas outras
produções anteriores ou realizadas depois dele - como parece ser o caso,
infelizmente de Matrix. Muito pelo contrário: elevado ao status de clássico Blade Runner
demonstra que está mais atual do nunca.
Se não estamos vivendo em meio a
um clima sempre nublado ou dentro de arranha-céus imensos como mostrados no
filme é possível que ele tenha antecipado alguns aspectos de nossa atual
realidade: vivemos em uma espécie de aldeia global onde os países mais ricos
dominam os mais fracos e a tecnologia que cada vez mais se incorpora em nosso
cotidiano, de modo que com a "evolução" dela corremos o sério risco
de sermos dominados completamente por ela se é que isso já não está
acontecendo. Além disso, o filme também trata de um tema muito discutido em
nossa sociedade: a criação da vida artificial como uma maneira de preservarmos
a nossa própria vida. Mesmo que os cientistas ainda não sejam capazes de criar
uma criatura a imagem e semelhança do homem como em Blade Runner, eles
insistem em "gerar' aberrações genéticas, tais como o rato com orelha
humana e estão cada vez mais empenhados em dar origem a robôs que a cada dia
que passa assumem novas características humanas, o que causa um grande
desconforto. (atenção abaixo tem SPOILERS sobre Blade Runner se você ainda não
viu o filme aconselho que não leia o que está escrito abaixo).
É provável que um dos fatores que
contribuíram para tornar Blade Runner um clássico do gênero seja sua
aproximação no que se refere à sua temática com outra obra considerada o marco
inicial da FC: Frankenstein, de Mary
Shelley. Existem vários pontos de aproximação entre o monstro criado pelo
cientista Victor Frankenstein e Roy, o líder rebelde dos replicantes. Ambos se
revoltam contra seus criadores humanos e tentam a todo custo se infiltrarem
dentro da esfera social. No entanto, eles são vistos como uma ameaça e
perseguidos somente lhes resta refugiarem-se em lugares isolados e planejarem
sua vingança contra aqueles que deram a eles a dádiva/maldição da vida.
A cena mais impressionante de
Blade Runner é quando Roy (Rugther Hauer, em uma excepcional atuação) encontra
"seu pai", o cientista que o criou. Inicialmente, ele incita a
compaixão por sua condição miserável como ser artificial que implica que ele
seus companheiros tenha um curto prazo de vida. Diante disso, ele pede que seu
criador infrinja a "regra de validade" e amplie sua vida. Mas, quando
ouve a negativa dele essa compaixão que inspira se torna pura revolta: num
gesto violento ele pressiona os olhos do seu criador, de modo a demonstrar
simbolicamente que a "visão" deste foi também causou sua destruição.
Mas é possível que o filme de
Scott tenha se tornado o que pode ser chamado de “mito cinematográfico” por uma
seqüência emblemática que ficou para sempre marcada na história do cinema:
depois de vencer Deckard (Harrison Ford, o eterno Indiana Jones) em uma luta
corporal, Roy o vê agarrado em uma barra de metal. Neste instante, o replicante
toma uma atitude inesperada: em vez de matá-lo, ele olha para Deckard e
pergunta a ele:
É uma estranha experiência viver
o tempo todo com medo, não é? Em
seguida, com um único gesto ele salva a vida de seu inimigo, que não entende
sua atitude. Em seguida, à beira da morte, Roy profere um das frases mais
emblemáticas do cinema de FC, a qual assume um sentido filosófico sobre a
fragilidade, fugacidade e, acima de tudo, importância da vida da vida humana:
"Vi coisas que vocês humanos
não acreditariam. Naves de ataque a bordo em chamas nas bordas de Orion. Vi
raios-C brilharem nos portões de Tanhaüser. Todos estes momentos ficarão
perdidos no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer."
Assim que Roy morre Deckard toma
consciência de uma terrível verdade: ao contrário do que imaginava os
replicantes são capazes de sentir emoções, ainda mais quando elas estão
associadas à necessidade de sobreviver. Ou seja, eles podem ser mais humanos que
os próprios seres humanos. Posteriormente, em outras versões de Blade Runner
essa noção de humanidade se torna mais perturbadora: em uma delas, aquela que
suscita mais questionamentos sobre sua compreensão sugere que o próprio caçador
de andróides Deckard pode ser um tipo de replicante. Assim, o caçador de uma
hora para outra se torna a caça e o que é real e o que é artificial se confunde
tornando uma coisa só no desfecho no filme.
É pela perspectiva como enxerga o
futuro da humanidade não somente no aspecto visual, mas também nas mudanças
proporcionadas pelo avanço tecnológico que Blade Runner apesar de ter
completado trinta anos continua bastante atual. No entanto, esperamos que o
futuro descrito nessa produção de Scott que definiu os novos rumos de um gênero,
a FC que até então oscila entre a fantasia das Spaces Operas, tais como “Guerra nas Estrelas” e os filmes que
giravam em torno da invasão alienígena na Terra, não seja tão sombrio como
aquele imaginado por este clássico da FC que consegue ser assustador e
fascinante ao mesmo tempo.
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