quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

As metamorfoses de Drácula nas telas de cinema (parte 05)


Realizada em 1958 pela produtora inglesa Hammer, que posteriormente, viria a se tornar uma verdadeira fábrica de monstros e, também “ressuscitou” Frankenstein e O Médico e o Monstro. “Drácula”: O Vampiro da Noite apesar de ser uma produção barata tem sua importância reconhecida pelo modo como reproduz os cenários góticos, que ajudam a criar uma atmosfera de terror, algumas passagens que evocam a trama original de Stoker e, principalmente, por ter dado uma nova e assustadora configuração ao Conde Vampiro.
Interpretado com eficiência pelo ator inglês Christopher Lee, Drácula inicialmente, aparece como um homem taciturno, que se comunica com poucas palavras, mas que em um determinado momento revela ser um vampiro em uma cena emblemática que posteriormente também se tornaria iconográfica na filmografia do horror, na qual ele aparece com os olhos inflamados de sangue, e, por sugerir contaminação é capaz de criar um efeito assustador. Por outro lado, este novo Drácula investe na sensualidade, uma vez que o vampiro é capaz de exercer sobre suas vítimas, todas elas do sexo feminino, uma espécie de transe hipnótico quando olham diretamente para ele. Nas cenas de ataque o momento da mordida é somente sugerido, por meio de imagens de janelas fechadas, o que evoca a intimidade sexual. Dessa forma, o Conde Vampiro de Lee assim como tinha sido o de Lugosi é uma espécie de versão pervertida de Dom Juan, que ao mesmo tempo em que consegue conquistar as mulheres, desperta o ódio nos homens. Contudo, Lee por meio de sua composição, na qual se destaca os gestos e olhares maliciosos, consegue tornar seu “Drácula” mais misterioso, sinistro e, por isso, mais ameaçador do que aquele encarnado por Lugosi. Também neste filme o aspecto sensual do livro de Stoker é enfatizado, por meio da presença de mulheres recatadas que após serem mordidas pelo vampiro se tornam agressivamente sensuais-essa mudança é representada pela mudança de figurino, uma vez que elas aparecem com roupas que acentuam os seios por meio de generosos decotes-, e a partir de então elas passam a ameaçar também por meio da mordida transformar seus parceiros em outros vampiros, o que realça ainda mais o forte apelo erótico do filme.
Também é importante enfatizar que nesta versão enquanto Drácula assume sua faceta mais sensual e agressiva, seu adversário o Dr. Van Helsing é totalmente o oposto. Ou seja, ele é frio, isento de emoções e puramente racional. Interpretado por Peter Cushing com certa dose de humor britânico e ironia, o inimigo do Conde Vampiro à maneira Sherlock Holmes tenta encontrar uma resposta lógica para todos os eventos, até mesmo aqueles que envolvem manifestações sobrenaturais e após tomar conhecimento de elas estão sendo causadas por Drácula, ele inicia uma perseguição implacável que tem objetivo destruí-lo.
Dessa forma, o filme estabelece um diálogo intertextual com a obra original de Stoker, em sua parte final que remete ao momento em que Drácula perseguido por seus inimigos busca refúgio em seu castelo, onde é destruído pela ação da luz do sol, o que posteriormente, viria a tornar-se um lugar comum em outras produções de qualidade cada vez mais inferior, nas quais Conde Vampiro como uma fênix, sempre renasce da morte.
Apesar de tomar muitas liberdades que o distanciam do texto original, este filme dirigido com habilidade por Terence Fisher contribui de modo significativo não só para dar uma nova imagem a Drácula, de modo a torná-lo mais ameaçador, mas também indiretamente para assegurar a permanência do romance de Stoker, que sobrevive até em época atual em parte devido a sua popularização por meio de suas adaptações cinematográfica.

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