quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

As metamorfoses de Drácula nas telas de cinema (parte 04)



Apesar da importância do filme de Murnau, Drácula somente faria sua estréia oficial no cinema e tornaria popular a partir de 1931. Dessa forma, surgiu a imagem iconográfica do Conde Vampiro mundialmente conhecida e incorporada ao imaginário popular: a do homem com os cabelos empastados de gel, com um sorriso maligno no rosto, vestido com um smoking preto e uma capa esvoaçante.
“Drácula” foi estrelado pelo ator húngaro Bela Lugosi, que depois do lançamento dessa versão cinematográfica teria sua imagem para sempre associada à criação de Stoker – uma associação que durou até sua morte em decorrência do vício em heroína-, foi um grande sucesso de bilheteria em sua época e também foi responsável por ter estabelecido as bases do horror nos Estados Unidos proporcionando o início de um ciclo de filmes desse gênero que é constituído por releituras de clássicos como Frankenstein e O Médico e o Monstro.
É provável, que um dos motivos do sucesso de Drácula, seja a presença marcante de Lugosi como Conde Vampiro que apesar de não ser um galã tinha um forte sotaque estrangeiro e conseguiu criar uma área de mistério em torno do personagem, capaz de despertar uma aparente repulsa que, na verdade é revestida de grande carga de sensualidade, suscitando assim um misto de repulsa e atração no público feminino, o que ainda constitui dos maiores atrativos da figura do vampiro na expressão cinematográfica.
No entanto, apesar do talento de Tod Browning como diretor para explorar ambientes decadentes e sinistros, principalmente, os que estão localizados no interior do castelo decadente, no quais predominam o jogo de luz e sombra que remete ao cinema expressionista, “Drácula” é um filme com pouca ação e, em determinados momentos, os diálogos entre os personagens são canhestros. Essas falhas que reduzem um pouco sua importância, provavelmente podem ter sido motivadas pela origem de seu roteiro: “Drácula” não é uma adaptação da obra original de Stoker, mas de uma peça teatral escrita a partir dela, que tinha sido apresentada também com grande sucesso e tinha Lugosi como protagonista. Além disso, “Drácula” também sofreu problemas com código de censura que impunha um rígido controle sobre todas as produções cinematográficas realizadas nos Estados Unidos e que visava abolir qualquer tipo de conteúdo que julgasse ser obsceno ou que pudesse agredir a sensibilidade dos espectadores. Com isso houve a redução (e muito) da conotação erótica de algumas cenas do filme. Isso se torna visível, principalmente, quando ocorre um corte no momento em que Drácula morde o pescoço de suas vítimas, uma vez que esse gesto simbolicamente sugere uma penetração sexual. Seqüências importantes no romance de Stoker como os da execução de Lucy e, posteriormente, de Drácula em seu desfecho também desaparecem ou foram “apagadas” nessa adaptação cinematográfica e apenas são sugeridas por meio das falas de Van Helsing, um personagem que tem sua participação reduzida. De qualquer forma, essa versão de Drácula realizada nos anos trinta mesmo na época atual ainda mantém o status de clássico, embora grande parte desse mérito se deve a presença marcante de Lugosi que contribuiu significativamente para transformar a figura do Conde Vampiro em mito também na arte cinematográfica.  
Contudo, o aspecto erótico da trama de Stoker seria ressaltado e voltaria a assumir grande importância em um filme que é apontado por dar um novo fôlego ao gênero do horror, uma vez que propiciou uma significativa contribuição para a popularização da criação de Stoker e também para sua plena incorporação no imaginário popular: Drácula, O Vampiro da Noite. 

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