domingo, 5 de fevereiro de 2012

A literatura gótica: seu surgimento, as principais obras e seus desdobramentos (parte 04)


Dentre os textos, que procuraram dar um tratamento diferenciado à temática gótica, procurando torna-la mais “literária”, ou seja, mais adequada às convenções da escrita do romance no século XIX e, até mesmo mais densa, principalmente, no que se refere a descrição de personagens complexos, destaca-se O Morro dos Ventos Uivantes, único romance e considerado a obra-prima da escritora Emily Brontë (1818-1848). Neste podemos encontrar a retomada de importantes elementos recorrentes no universo gótico tais como, a estrutura narrativa fragmentada, a dissolução entre as fronteiras entre o natural e o sobrenatural, a duplicação e a descrição de um personagem (Heathcliff) que, de acordo com o estudioso inglês Fred Botting combina os papéis de vilão e do marginal romântico assemelhando-se em seu desejo de destruição a um vampiro. No entanto, no romance, é o uso de uma linguagem poética, na qual predomina metáforas associadas ao estilo sublime de escrita e que remete aos dramas em prosa byronianos, o que de acordo com alguns críticos literários constitui seu grande mérito e elemento diferenciador de outras obras góticas. Também é importante ressaltar que, em alguns momentos o romance de Bronte assume grande intensidade dramática, onde são enfatizados a cartase e o pathos, elementos que contribuem para estabelecer uma proximidade entre essa obra e os gêneros da tragédia e do melodrama.
É também na metade do século XIX, que a escrita gótica se mistura à literatura realista e somente alguns de seus vestígios, provavelmente sob a forma de estilo que ressalta o aspecto de cenários decadentes e sombrios, como por exemplo, a mansão arruinada descrita em Grandes Esperanças, de Charles Dickens (1812-1870) ou, ainda como  gênero, onde se destaca a  criação de fugazes atmosferas de tensão e medo nas histórias de fantasmas, também escritas por esse autor.
Alguns elementos do romance gótico, ao serem retomados, renovados e inseridos dentro de novos ambientes, dão origem a um subgênero: a “sensation novel, na qual se destacam acontecimentos estranhos, tais como desaparecimentos e mortes misteriosas, solucionadas apenas em seu desfecho e, que geralmente tem sua origem em esquemas armados por aristocratas maldosos e ambiciosos”. Essa literatura, apesar de sua curta duração é apontada como uma das precursoras do romance policial inglês que, se tornará muito popular no início do século seguinte, com o surgimento de um personagem considerado o arquétipo do detetive: Sherlock Holmes, a mais conhecida criação do escritor Arthur Conan Doyle (1859-1930).
Embora as sensation novels tenham retomado importantes características da literatura gótica, o ressurgimento dela começa a delineado na ficção do escritor irlandês Joseph Sheridan Le Fanu (1814-1873). Dentre as obras góticas de Le Fanu, além das histórias de fantasmas, destaca-se Carmilla (1872), uma narrativa na qual aparecem elementos que, mais tarde, são retomados em Drácula, tais como a construção de uma atmosfera contínua de mistério e suspense, que culmina em uma horrível cena e o vampirismo associado à sensualidade feminina.
Além dessa obra é importante ressaltar que outra história de vampiros, embora esquecida, também exerceu uma grande influência sobre Bram Stoker: Varney the vampire, publicada em forma de folhetim em 1847 e, que de acordo David Skal é protagonizada por Lord Francis Varney, um personagem que se destaca por seu comportamento amoral e sua natureza bestial, características que, posteriormente também serão encontradas no Conde-vampiro descrito no romance de Stoker.
No final do final do século XIX, algo inesperado aconteceu: o gótico ressurge em sua plenitude com a publicação de duas obras, que para a grande parte da crítica literária, estão totalmente inseridas dentro desse gênero literário: O Médico e Monstro (1886), de Robert Louis Stevenson e Drácula (1897), de Bram Stoker.

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