Dentre os textos, que procuraram dar um
tratamento diferenciado à temática gótica, procurando torna-la mais “literária”,
ou seja, mais adequada às convenções da escrita do romance no século XIX e, até
mesmo mais densa, principalmente, no que se refere a descrição de personagens
complexos, destaca-se O Morro
dos Ventos Uivantes, único romance e considerado a obra-prima da escritora Emily
Brontë (1818-1848). Neste podemos encontrar a retomada de importantes elementos
recorrentes no universo gótico tais como, a estrutura narrativa fragmentada, a
dissolução entre as fronteiras entre o natural e o sobrenatural, a duplicação e
a descrição de um personagem (Heathcliff) que, de acordo com o estudioso inglês
Fred Botting combina os papéis de vilão e do marginal romântico assemelhando-se em seu desejo de destruição a um vampiro. No
entanto, no romance, é o uso de uma linguagem poética, na qual predomina
metáforas associadas ao estilo sublime de escrita e que remete aos dramas em
prosa byronianos, o que de acordo com alguns críticos literários constitui seu
grande mérito e elemento diferenciador de outras obras góticas. Também é
importante ressaltar que, em alguns momentos o romance de Bronte assume grande
intensidade dramática, onde são enfatizados a cartase e o pathos, elementos que contribuem para estabelecer uma proximidade entre essa obra e os gêneros da
tragédia e do melodrama.
É também na metade do
século XIX, que a escrita gótica se mistura à literatura realista e somente
alguns de seus vestígios, provavelmente sob a forma de estilo que ressalta o
aspecto de cenários decadentes e sombrios, como por exemplo, a mansão arruinada
descrita em Grandes Esperanças, de Charles Dickens (1812-1870)
ou, ainda como  gênero, onde se destaca a  criação de fugazes
atmosferas de tensão e medo nas histórias de fantasmas, também escritas por esse
autor.
Alguns elementos do
romance gótico, ao serem retomados, renovados e inseridos dentro de novos
ambientes, dão origem a um subgênero: a “sensation novel, na qual
se destacam acontecimentos estranhos, tais como desaparecimentos e mortes
misteriosas, solucionadas apenas em seu desfecho e, que geralmente tem sua
origem em esquemas armados por aristocratas maldosos e ambiciosos”. Essa
literatura, apesar de sua curta duração é apontada como uma das precursoras do
romance policial inglês que, se tornará muito popular no início do século
seguinte, com o surgimento de um personagem considerado o arquétipo do
detetive: Sherlock Holmes, a mais conhecida criação do escritor Arthur Conan
Doyle (1859-1930).
Embora as sensation
novels tenham retomado importantes características da literatura
gótica, o ressurgimento dela começa a delineado na ficção do escritor irlandês
Joseph Sheridan Le Fanu (1814-1873). Dentre as obras góticas de Le Fanu, além
das histórias de fantasmas, destaca-se Carmilla (1872), uma
narrativa na qual aparecem elementos que, mais tarde, são retomados em Drácula, tais
como a construção de uma atmosfera contínua de mistério e suspense, que culmina
em uma horrível cena e o vampirismo associado à sensualidade feminina.
Além dessa obra é
importante ressaltar que outra história de vampiros, embora esquecida, também
exerceu uma grande influência sobre Bram Stoker: Varney the vampire,
publicada em forma de folhetim em 1847 e, que de acordo David Skal é
protagonizada por Lord Francis Varney, um personagem que se destaca por seu comportamento amoral e sua natureza bestial, características que, posteriormente também serão encontradas no Conde-vampiro descrito no romance de Stoker.
No final do final do
século XIX, algo inesperado aconteceu: o gótico ressurge em sua plenitude com a
publicação de duas obras, que para a grande parte da crítica literária, estão
totalmente inseridas dentro desse gênero literário: O Médico e Monstro (1886),
de Robert Louis Stevenson e Drácula (1897), de Bram
Stoker.
 
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