Frankenstein não só promoveu a incorporação do
excesso de sensibilidade romântica dentro da literatura gótica, mas também
conseguiu estabelecer uma relação de proximidade entre o horror e a ciência por
meio do tratamento ousado e inovador do tema da criação artificial biológica
que ao abolir o meio natural de concepção. Assim, é por meio dessa temática,
que o protagonista, o cientista Victor Frankenstein incorre uma espécie de hubris, pois desafia às leis da
Natureza, que no romance remete ao poder de entidade superior (Deus). O ato transgressivo
do cientista resulta na criação de uma
criatura monstruosa, que além de escapar ao seu controle, volta-se contra ele.
Dessa forma, essa obra-prima de modo metafórico enfatiza o aspecto ameaçador da
literatura gótica, que em seu cerne faz um alerta sobre a possibilidade de que
os procedimentos experimentais científicos pudessem dar origem a criações
capazes de ameaçar e destruir a raça humana, inaugurando assim, um dos
fundamentos essências de um novo gênero literário: a Ficção científica, o qual
na maioria das vezes discutirá as intricadas relações entre o homem e os
inventos científicos, alguns dos quais podem afetar profundamente nosso
cotidiano.
Vale também ressaltar
que, o tema que tem sua origem nesse romance de Mary Shelley, será retomado e
revisto inúmeras vezes dentro de diferentes abordagens não somente no romance
gótico e na FC, mas também em outros gêneros literários e na arte
cinematográfica.
Também dentro do período
em que surgiu a trama básica que daria origem a Frankenstein, foi escrito
aquele que é considerado o primeiro texto em prosa da literatura inglesa sobre
o tema do vampiro: The vampyre,
de John Polidore (1795-1821) que, posteriormente, foi publicado em 1819, e
estabeleceu a associação entre o vampirismo e o comportamento amoral-decadente
da aristocracia inglesa, além de ter fornecido a configuração tradicional do
vampiro como um ser masculino ou feminino, que por meio de seu charme e a
criação de uma áurea de mistério em torno de si, estabelece um perigoso jogo de
sedução com sua vítima, com o propósito de posteriormente destruí-la.
Além dessas obras, em
1820 foi publicado outro romance, que anos depois exerceria uma grande
influência sobre Honoré de Balzac e Oscar Wilde: Melmoth, o errante, de Charles
Maturin (1782-1824). Nele, o autor também associou o tema do pacto fáustico aos
horrores que têm sua origem na religião, de modo a suscitar o medo e promover
questionamentos. Dessa forma, assim como outras obras anteriores, dentre
elas, Frankenstein, de Mary Shelley, o romance de Maturin dá um novo enfoque à
temática gótica que, aos poucos, foi tornando-se mais elaborada, desafiando as
convenções e possibilitando sempre novas leituras até a época atual.
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