domingo, 5 de fevereiro de 2012

A literatura gótica: seu surgimento, as principais obras e seus desdobramentos (parte 03)

Frankenstein não só promoveu a incorporação do excesso de sensibilidade romântica dentro da literatura gótica, mas também conseguiu estabelecer uma relação de proximidade entre o horror e a ciência por meio do tratamento ousado e inovador do tema da criação artificial biológica que ao abolir o meio natural de concepção. Assim, é por meio dessa temática, que o protagonista, o cientista Victor Frankenstein incorre uma espécie de hubris, pois desafia às leis da Natureza, que no romance remete ao poder de entidade superior (Deus). O ato transgressivo do cientista resulta na criação  de uma criatura monstruosa, que além de escapar ao seu controle, volta-se contra ele. Dessa forma, essa obra-prima de modo metafórico enfatiza o aspecto ameaçador da literatura gótica, que em seu cerne faz um alerta sobre a possibilidade de que os procedimentos experimentais científicos pudessem dar origem a criações capazes de ameaçar e destruir a raça humana, inaugurando assim, um dos fundamentos essências de um novo gênero literário: a Ficção científica, o qual na maioria das vezes discutirá as intricadas relações entre o homem e os inventos científicos, alguns dos quais podem afetar profundamente nosso cotidiano.
Vale também ressaltar que, o tema que tem sua origem nesse romance de Mary Shelley, será retomado e revisto inúmeras vezes dentro de diferentes abordagens não somente no romance gótico e na FC, mas também em outros gêneros literários e na arte cinematográfica. 
Também dentro do período em que surgiu a trama básica que daria origem a Frankenstein, foi escrito aquele que é considerado o primeiro texto em prosa da literatura inglesa sobre o tema do vampiro: The vampyre, de John Polidore (1795-1821) que, posteriormente, foi publicado em 1819, e estabeleceu a associação entre o vampirismo e o comportamento amoral-decadente da aristocracia inglesa, além de ter fornecido a configuração tradicional do vampiro como um ser masculino ou feminino, que por meio de seu charme e a criação de uma áurea de mistério em torno de si, estabelece um perigoso jogo de sedução com sua vítima, com o propósito de posteriormente destruí-la.
Além dessas obras, em 1820 foi publicado outro romance, que anos depois exerceria uma grande influência sobre Honoré de Balzac e Oscar Wilde: Melmoth, o errante, de Charles Maturin (1782-1824). Nele, o autor também associou o tema do pacto fáustico aos horrores que têm sua origem na religião, de modo a suscitar o medo e promover questionamentos. Dessa forma, assim como outras obras anteriores, dentre elas, Frankenstein, de Mary Shelley, o romance de Maturin dá um novo enfoque à temática gótica que, aos poucos, foi tornando-se mais elaborada, desafiando as convenções e possibilitando sempre novas leituras até a época atual.


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