domingo, 5 de fevereiro de 2012

A literatura gótica : seu surgimento, as principais obras e seus desdobramentos (parte 01)


O romance gótico surgiu na Inglaterra, por volta da metade do século XVIII, e provocou uma ruptura nas regras estéticas neoclássicas, que predominavam nessa época. A primeira obra considerada gótica, O Castelo de Otranto (1764), inaugurou uma nova estética dentro do âmbito da literatura, e sua origem se deu após o escritor inglês Horace Walpole (1717-1797) ter um pesadelo, em que era perseguido por uma gigantesca mão envolvida em uma luva de ferro dentro dos corredores de um castelo em ruínas.  
Segundo o Professor Ariovaldo José Vidal, no prefácio que escreveu para essa obra de Walpole, as raízes do romance gótico estavam espalhadas pela história literária e social inglesa, esperando que alguém as recolhesse e lhe desse uma forma definida. Além disso, esse tipo de literatura em sua natureza é essencialmente híbrida, uma vez que em O Castelo de Otranto, o autor tentou conciliar o romanesco, o qual evoca o maravilhoso medieval e retoma elementos recorrentes do romance do século XVIII, dentre eles a minuciosa descrição de cenários e ações dos personagens.
Dentre suas principais características, no romance gótico inglês destaca-se pelo estilo de linguagem empregado pelos romancistas, no qual é enfatizada a presença de um elemento ameaçador que no plano concreto se revela terrível, mas que por estar inserido somente no plano ficcional, suscita no leitor uma sensação de prazer. Assim, mais do que instruí-lo com ensinamentos morais, esse tipo de literatura provoca nele uma resposta emocional: excitar em vez de informar, “gelar” seu sangue, fortalecer suas fantasias, e alimentar seu interesse pelo sobrenatural, horrível, estranho, ou seja, tudo aquilo que não poderia ser explicado pelo raciocínio lógico-científico.
Inicialmente, nos romances góticos escritos na segunda metade do século XVIII, é muito recorrente o tema da virtude em perigo, uma vez que a heroína é sempre ameaçada por um vilão de origem aristocrática, que não mede esforços para mantê-la aprisionada em um castelo em ruínas, geralmente localizado no alto de uma montanha. Também nessas narrativas é construída uma contínua atmosfera de terror, ou o que é popularmente conhecido como suspense, a qual procura prender a atenção dos leitores por meio de supostas aparições sobrenaturais, mas que, posteriormente são explicadas próxima ao desfecho. Nesse período, dentre os autores, destaca-se a inglesa Ann Radcliffe (1764-1823) que devido à suas descrições pictóricas em suas narrativas, nas quais se destaca a estética do sublime, ela ficou conhecida em sua época como “a poetisa da literatura gótica”. Mas apesar das contribuições de Radcliffe para a popularização do romance gótico, esse aos poucos se esgota tornando-se um tipo de literatura menor e que encontrou somente um fiel público leitor em mulheres que pertenciam à burguesia, uma vez que para elas esse tipo de ficção era um modo de escapar às pressões sociais. 


Um comentário: