quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

As metamorfoses de Drácula nas telas de cinema (parte 02)

É importante esclarecer que Drácula como aparece na narrativa original de Stoker tenha muito pouco dos outros “Dráculas” imortalizados pela arte cinematográfica. No romance, o Conde Vampiro é descrito como um homem de aspecto repulsivo e sua aparência está longe de ser a de um galã de filme de Hollywood. Também um dos elementos presentes na trama original, a sensualidade aparece associada à crueldade, a perversidade sexual e, até mesmo à degeneração física. No romance, quando Mina descreve Drácula a primeira vez que o vê, ela enfatiza seus lábios cruéis, o nariz aquilino, a magreza e, principalmente, sua extrema palidez. Ou seja, o “Drácula literário” se fosse transposto com toda fidelidade ao texto original provavelmente teria uma existência curta nas telas de cinema.
Além disso, é importante enfatizar que, o romance de Stoker aparentemente é “infilmável”. Isso porque sua estrutura narrativa é toda fragmentada constituída a partir de diferentes tipos de relatos (cartas, diários, recortes de jornal e, até mesmo diários de navegação e relatórios científicos) narrados sob a perspectiva de diferentes pontos de vista, embora em nenhum momento tenhamos completo acesso ao personagem principal: Drácula.
Isso cria um efeito interessante: O Conde Vampiro não narra, e sim é “narrado”, ou seja, tudo que ficamos sabendo sobre ele é a partir das impressões de outras pessoas. Talvez, o problema é que Jonathan Harker, Lucy e Mina, protagonistas da trama em vários momentos parecem oscilar entre a fantasia e a realidade. Assim, grande parte dos eventos de maior impacto que compõem a narrativa de Stoker acontecem em uma atmosfera onírica, que mistura sonho e pesadelo, onde não é possível separar o que é real e o que é imaginário. Também é importante enfatizar, que Stoker privilegia mais a atmosfera de mistério quase sempre carregada de tensão do os elementos de horror, embora esses muito recorrente na literatura gótica do fim do século XIX, estejam presente no romance atrelado à manifestação agressiva da sensualidade e assume grande importância em cenas significativas, tais como: a tentativa das “Noivas de Drácula” de beijar Jonathan Harker,  a degeneração física do corpo de Lucy provocada por sua gradual metamorfose em vampiro, a tentativa frustrada dela de seduzir o noivo que culmina com sua execução pelo mesmo no interior de uma câmara mortuária e, aquela  em que a obra atinge seu clímax, na qual Drácula contamina Mina com seu sangue.
A partir dessa constatação conclui-se que adaptar a trama original de Stoker é sempre uma tarefa difícil, porque demanda que algumas seqüências sejam deixadas de lado em favor de uma melhor fluidez e da coerência dentro de uma narrativa cinematográfica.
Por isso, ao longo do tempo, diretores e roteiristas buscaram cada um a sua maneira tentar preservar aspectos que consideravam mais atraentes na obra de Stoker quando esta foi adaptada para as telas de cinema.

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