terça-feira, 30 de setembro de 2014

Resenha: O Colecionador (filme)

Este é considerado o último grande filme do diretor norte-americano William Wyler, que também realizou a melhor versão de O Morro dos Ventos Uivantes para o cinema. É adaptado do livro de John Folwes (comentado no blog) que foi um best seller em sua época. Apesar de o filme e o romance terem muito pontos em comum é possível notar que existem pequenas diferenças entre eles. 

                                                O sequestrador em ação

O Colecionador chegou aos cinema em 1965 e foi concebido como um thriller de suspense deixando de lado aspectos da vida de um dos personagens (que poderia torná-lo longo e até mesmo um pouco aborrecido) e outros elementos do romance, tais como discussão sobre o conceito de beleza da arte e o conflito entre classes sociais. Assim, o filme de Wyler consiste, acima de tudo, em um elaborado exercício de suspense que se sustenta por quase duas horas graças a ótima atuação do casal de protagonistas (Terence Stamp e Samanta Eggar, que ganharam merecidamente os prêmios de melhor ator e melhor atriz no festival de Cannes daquele ano) e pelo excelente trabalho de direção de Willer, que cria um espaço claustrofóbico e até mesmo assustador, no qual, inicialmente, se destaca uma iluminação em tom vermelho - provavelmente, inspirado nas produções de terror de Mario Bava.

A prisão subterrânea 

Também no filme há diferenças marcantes na caracterização de personagens que diferem um pouco no livro. Frederic, o sequestrador (interpretado de forma brilhante por Terence Stamp, mais conhecido como a drag queen de Priscilla: A Rainha do Deserto)  é bem mais sinistro, misterioso e, em certo aspecto, até mesmo charmoso, enquanto sua vitima, a jovem Miranda é menos sexualizada e  mais frágil. 

Terence Stamp


Samantha Eggar 

Embora o filme tome algumas liberdades com a trama do romance, esta é mantida sem muitas mudanças em sua essência. Ela é bastante simples e começa da mesma forma que o livro de Folwes. Após ganhar uma fortuna na loteria esportiva, um tímido funcionário público (Terence Stamp) decide sequestrar uma moça (Samantha Eggar) por quem é secretamente apaixona e mantê-la prisioneira em uma casa isolada até que ela se apaixone por ele.
É partir deste mote que o filme se desenvolve. Vale destacar na parte inicial de O Colecionador, a sequencia que pela forma como foi realizada totalmente filmada à distância chega a ser angustiante, em que Frederic persegue Miranda pelas ruas da cidade Londres, como se fosse um caçador à procura de sua caça. 


O sequestrador na caça de seu objeto de desejo.

Wyller é um diretor que sabe muito bem extrair emoções dos atores e também explorar sutis mudanças de expressão por meio de close ups fechados que sugerem nuances no comportamento de ambos. Apesar do filme somente se concentrar em dois personagens, ele nunca é cansativo e desinteressante. É importante salientar que o diretor consegue criar cenas carregadas de tensão a partir de situações aparentemente banais. Dessa forma, um olhar sinistro de Stamp pode ocultar uma intenção escondida, a qual pode incutir um desejo de causar algo terrível, ou uma fala agressiva dele dirigida a jovem que é sua prisioneira são capazes de mexer com nossa imaginação e suscitar uma sensação de apreensão diante do que ele pode fazer com a moça se ela se recusar a se submeter à sua vontade.   
Visto hoje, O Colecionador parece ser um filme que, ao contrário de muitos produzidos na década de sessenta, melhorou com o tempo. Privilegiando, e certa medida ampliando o aspecto gótico da obra original de Folwes – principalmente, por meio da ênfase no cenário da prisão subterrânea de Miranda de modo que esta possa ser visualizada em detalhes, esta produção consegue prender a atenção do começo ao fim.
O filme de Wyler faz uma síntese das melhores passagens do romance e reproduz na íntegra seu final inesperado e perturbador, que demonstra o desenvolvimento de uma mentalidade insana e perigosa. Em sua obsessão pela mulher amada a ponto de aprisiona-la totalmente no interior de uma antiga mansão, o sequestrador de O Colecionador em alguns aspectos antecipa a assustadora figura do psicopata que aprisiona suas vítimas e as trata como se fossem objetos que podem ser descartados e que, posteriormente, é retratada de forma assustadora em filmes como Seven – Os Sete Crimes Capitais e O Silêncio dos Inocentes.

           A jovem é tratada como uma borboleta que faz parte de sua coleção


Mesmo após tanto tempo, O Colecionador mantém seu impacto e provoca inquietação e, até um certo temor quando pensamos que possam existir pessoas como seu protagonista que, por de trás de uma aparência aparentemente calma e tímida esconde um lado terrível e doentio que pode se manifestar a qualquer momento. Sem dúvida, trata-se de uma obra-prima sétima arte, um grande clássico do gênero suspense que vale a pena ser visto e descoberto por uma nova geração de espectadores de cinema.
Obs.: O filme foi lançado pela distribuidora Versátil, que tem se especializado em clássicos. Este tem ótima qualidade de imagens, mas tem somente extra o trailer.
 

Cotação: ***** (excelente)

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