domingo, 17 de agosto de 2014

Filme:"Carrie: a estranha"

Assisti ontem o remake de “Carrie: a estranha”. Mais uma vez, pude comprovar que este não é um bom momento para o terror no cinema. Me parece que este gênero conseguiu se renovar na tv, conforme podemos ver em Penny Dreadful, mas com exceção do ótimo “Invocação do Mal”, o terror não sido bem explorado no cinema, principalmente, nas produções de Hollywood.
Achei esta nova versão de "Carrie" decepcionante. Os problemas dessa produção começam na escolha da diretora Kimberly Peirce, conhecida pelo drama "Meninos não choram". "Carrie" é o tipo de filme que devido aos seus elementos carregados exige um diretor especialista em terror. É possível que se esse filme tivesse sido feito por Guilherme Del Toro o resultado teria sido diferente, não só porque ele sabe como criar atmosferas de terror de forma convincente, mas também porque seria capaz de dar uma dimensão humana a personagem principal ressaltando seu aspecto trágico, o que infelizmente a diretora não consegue.

O elenco jovem também não se destaca e grande parte dos atores são muito fracos. Foi um erro a escalação de Chloe Moretz para ser a protagonista, uma vez que ela é bonitinha, mas não tem estofo dramático para conseguir sustentar nos momentos mais intensos do filme. No clássico de De Palma, a atriz Sisy Spacek tem uma aparência esquisita, que sinaliza que tem algo muito errado nela e sua interpretação é cheia de nuances, variando entre a extrema timidez e a doçura. 

Essa estranheza é o que faz falta  nesta refilmagem, que mostra Carrie como se ela fosse uma garota quase normal, que nem um momento é vista como uma "freak" (aberração) pelos outros alunos da escola. No filme de De Palma, Carrie é reprimida sexualmente e é vítima constante de bullying - dois fatores que somados dão margem para a manifestação de seus poderes sobrenaturais. A junção desses dois elementos -a repressão sexual e os maus tratos sofrido por Carrie é gradativamente explorada pelo diretor, de modo a ter um efeito explosivo em um determinado momento do filme.

Peirce se revela uma diretora limitada dando pouca atenção ao que se passa em torno de Carrie e prefere se ater ao conflito entre ela e sua mãe, enfraquecendo outras situações e personagens que poderiam ser melhor explorados. Um exemplo disso, é a maquiavélica cheeleader que arma contra Carrie, que tem grande destaque no filme original, interpretada pela deliciosa Nancy Allen,- mulher do diretor à época, mas aparece pouco na versão atual. 

Apesar de gostar de Julianne Moore, ela também não convence como a mãe da protagonista. Na versão de De Palma, Piper Laurie conseguia torna-la apavorante - em muitas cenas, ela aparece na sombras, quase todo o tempo está vestida de preto, de modo a se parecer uma bruxa, enquanto Moore somente faz dela uma louca, o que empobrece sua caracterização.
Mas, o grande problema desta refilmagem é quando o filme tem seu clímax na clássica cena do baile. No filme de De Palma, este ganha ares de tragédia, com Carrie transformada de me
nina doce em um ser monstruoso que encarna uma fúria (entidade da mitologia grega) em seu desejo de vingança. No remake, essa cena tão marcante a ponto de tornar o filme de De Palma uma obra-prima do gênero terror, é enfraquecida pela frouxa direção de Peirce. A diretora, adota uma leitura da trama de King pela perspectiva feminista, reduzindo a catarse de Carrie. Assim, a monstruosa do filme original com olhos azuis esbulhados, parecendo um assustador feto gigante dá lugar a uma menininha revoltada, que acaba com a festa porque “zoaram”com ela. Ou seja, a vingança de Carrie no filme de Peirce parece ter sua principal motivação em uma crise de TPM e não nas constantes humilhações e a repressão sofrida pela garota, diminuindo muito o impacto dessa sequencia. Além disso, o sangue que vemos caindo sobre a garota é criado a partir de um efeito digital!, o que tira o realismo e o impacto desta cena que no filme original é arrepiante. No final, o remake de "Carrie" desanda de vez: a macabra cena que envolve a mãe de Carrie se torna uma paródia de mau gosto e o filme termina literalmente soterrado, sem produzir o marcante efeito de pesadelo da versão anterior.

Assim, tudo que é grandioso, terrível no clássico de De Palma se torna menor e “suavizado” em seu remake, que demonstra ser totalmente desnecessário. É uma pena. Mas, por outro lado, assegura o status de clássico de “Carrie: a estranha”, dirigido por Brian De Palma, que mesmo na época atual impressiona por sua impecável realização e seu desfecho surpreendente, que fez com que muita gente levantasse da cadeira antes de seu término, que infelizmente foi suprimido na sua nova versão. 

"Carrie: a estranha" (1976) permanece como um dos melhores filmes de terror já realizados, tanto é, que Stephen King o considera melhor que seu livro, o que é um elogio de um especialista sobre o gênero do terror.
 cotação: ** (regular)

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